Sindicato dos Comerciários de Santa Cruz do Sul e Região 25/04/2024      15:44:58

DIRETO DO CHILE - Militante chilena fala como está a situação do País e sobre a luta do povo contra os ataques do governo


O programa do Sindicato dos Comerciários do último dia 26 de novembro, transmitido pela Rádio Comunitária 105,9 FM, contou com a participação da advogada Maria Rivera, militante do Movimento Internacional dos Trabalhadores (MIT), que mora em Santiago, no Chile. Ela contou como está a situação naquele País, desde que o povo saiu às ruas para protestar contra os ataques do governo. 

Os chilenos estão dando exemplo para todo o mundo de que a mobilização da classe trabalhadora é nossa única saída.

Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Cláudia: Como é que está a situação aí no Chile? Como é que está o povo? Há quanto tempo essa luta iniciou?

Maria: Em 18 de outubro, o povo chileno saiu às ruas, em Santiago, à noite, para expressar a raiva, muita raiva, contida por muitos anos, por causa da injustiça, pela precariedade da vida, pela opressão desavergonhada dos grupos econômicos representados hoje por Sebastián Piñera e que haviam sido representados por governantes como Michelle Bachelet e tantos outros presidentes a partir dos anos 90. Nesse dia, queimaram estações de metrô que representavam o poder da empresa nacional de eletricidade, bancos e as pessoas começaram a sair em peso para a rua. Isso se estendeu para todas as regiões do país.
Nesse dia, não pararam as mobilizações nem mesmo durante o tradicional ensopado diário que atende a um milhão de pessoas na praça principal, que agora é chamada de Praça da Dignidade (anteriormente era chamada Praça Itália). Em 25 de novembro, dia contra a violência de mulheres, houve luta contra a violência das mulheres e também contra todo o sistema capitalista. Finalmente, porque a população chilena até agora não aceitou nenhuma das intenções do governo de Sebastián Piñera para cessar, o que se tornou muito violento, o governo decretou o toque de recolher de emergência e levou o exército para a rua, porque os policiais da polícia militarizada não conteram o povo. As pessoas que caminhavam contra a polícia foram para cima do exército e também não o obedeciam.

Cláudia: Então essa mobilização do povo iniciou em 18 de outubro. E desde então o povo está na rua, não recuou?

Maria: Sim. Hoje parou o porto do setor produtivo e dos setores de serviços, há parada de caminhoneiros, há parada nos colégios, nos hospitais. Parada nacional. Existem mobilizações diferentes todos os dias, não há possibilidade de tentar a institucionalidade. Eles tentam oferecer saídas e as pessoas lutam, não ouvem nenhuma saída. Querem a saída de Sebastián Piñera do governo. Todos os dias, especialmente os que tem sido chamados de trabalhadores da linha de frente, evitam que a polícia atravesse a barreira da manifestação.

Cláudia: Maria, tens um número de quantos chilenos estejam na rua?

Maria: Bem, a maior quantidade é de três milhões de chilenos na rua. São milhares de milhares de milhares. Santiago não é mais o mesmo que está no meio de uma revolução. Pararam o trabalho nas lojas e nos supermercados quase não existe mais alimentos, porque o transporte parou em toda parte. Essas pessoas são uma parcela e há muitas pessoas na rua, de crianças pequenas a idosos. Todos os dias, existem muitas “barricadas”, como vocês dizem.

Clair: Além das privatizações... hoje, esses milhões e milhões de pessoas estão na rua para a derrubada do governo, não?

Maria: A ditadura de Pinochet, no final dos anos 80, acabou privatizando todos os serviços. As privatizações aprofundaram nos governos do Partido Socialista Democracia Cristã. Absolutamente nada, nada, nada Estado, nada. Tudo privado. Efetivamente não querem recuperar recursos naturais. Todas as pessoas querem tudo de volta.
O Chile é absolutamente todo privado, a estrada, todos os serviços básicos (água, luz, telefonia, saúde, educação), nada, nada do Estado, nada. De fato, o povo cansou e quer recuperá-lo. O governo privatizou todos os recursos naturais, cobre, mar, a agricultura.
O Presidente da República não é um político, ele é um dos empresários mais importantes do país. Evidentemente, há os partidos que se dizem progressistas. Até a Frente Ampla é o partido que emergiu das mobilizações estudantis para formar uma assembleia constituinte para eles.

Cláudia: A CSP-Conlutas compartilhou uma imagem de pessoas com ferimentos nos olhos. Qual é a explicação disso?

Maria: A verdade é considerada um crime contra os olhos da humanidade. Sou militante da seção da Liga (Liga Internacional dos Trabalhadores) no Chile e sou advogada. Registramos uma queixa criminal por crimes contra a humanidade, contra a ação criminosa de Sebastián Piñera, que foi aceita a tramitação. O processamento e o que está sendo processado já foi um golpe positivo para tantos detidos feridos. Há cerca de 1.500 pessoas em prisão preventiva. É um problema sério, digamos, porque os jovens que combatem a polícia são frequentemente presos e perseguidos até seus domicílios.

Cláudia: Queremos chamar atenção para uma parte da tua fala, de que mesmo com as tentativas de “acordo”, o povo não recuou e segue firme na luta aí. Essa mobilização, esse sentimento de luta do povo vem exatamente do que? O que está impulsionando o povo?

Maria: Hoje, a consigna massiva de todas as mobilizações no Chile é de que ele (o povo do País) acordou depois de 30 anos reprimido e conformado com as migalhas. Mas desde o dia 18 de outubro, todos os dias, aparece um novo setor que se soma à mobilização. Seja de forma parcial ou específica daquele setor, essa é a consigna inicial. Os trabalhadores organizados não entraram nessa mobilização maciça, eles participam com suas famílias e em seus bairros. Agora, é muito importante que pensemos: Sebastián Piñera não caiu do governo porque os partidos políticos o estão suspendendo até agora, porque ele tem 11%, eu acredito, de apoio, e uns 40% de repúdio. Sebastián Piñera está em uma crise. Ele tentou novamente tirar o exército, mas não conseguiu, porque o exército não estava disposto a sair novamente com a proposta de Sebastián Piñera.
Dizemos que é uma verdadeira revolução, este é um momento muito importante no processo. Não há setores ou órgãos que lideram essa revolução. Depois, há uma situação muito, muito, muito boa de que, massivamente, os jovens que se apresentaram para o Exército e foram chamados como voluntários pelo governo para conter o povo não quiseram entrar no Serviço Militar obrigatório.

Clair: Quem direciona esses milhões de pessoas que estão na rua? Tem algum Sindicato, alguma liderança?

Maria: É tudo espontâneo. Não há nenhum partido que tenta se colocar à frente e as pessoas repudiam aqueles que já conhecem. São pessoas comuns, que se organizam em qualquer lugar do Chile, fazem paradas nas ruas contra o desemprego. O que está surgindo é uma espécie de assembleias populares, em diferentes bairros, para discutir problemas especiais ou setoriais, mas não há direção que seja a cabeça desse movimento.

Clair: (Por conta da semelhança do governo chileno e brasileiro) Qual a tua mensagem para nós, brasileiros, para nós, mulheres, homens, estudantes, crianças?

Maria: Acreditamos em uma maravilhosa ascensão na América Latina, Colômbia, Chile, Argentina e Brasil. Essa é a resposta de todas as massas aos trabalhadores e suas famílias. Não permitam aí no Brasil que essas privatizações aconteçam como no Chile. Hoje, 86% das famílias estão absolutamente endividadas até para comprar comida. Toda a riqueza do nosso país é produzida por trabalhadores e suas famílias e não se pode deixar que um punhado de banqueiros que vivem em opulência continuem roubando às custas da miséria e da fome da grande maioria. Acho que está chegando a hora. Estou muito confiante de que essa Revolução Chilena terá um desenvolvimento. Mas não creio que o Chile volte a ser o que era antes de 18 de outubro. E todos os países latino-americanos têm que crescer em mobilização e lutar para recuperar o que roubaram de nós.

06/12/2019 10:33:49




Sindicato dos Comerciários de Santa Cruz do Sul e Região
Capitão Fernando Tatsch, 424
Centro - SantaCruz do Sul / RS
(51) 3711-2658
Central de Atendimento
Capitão Fernando Tatsch, 424
Centro - SantaCruz do Sul / RS
(51) 3711-2658
Central de Atendimento
Sindicato dos Comerciários de Santa Cruz do Sul e Região