Uma reflexão sobre o Dia do Comerciário

ARTIGO

Afonso Schwengber

Ex-presidente e atual tesoureiro do Sindicato dos Empregados no Comércio de Santa Cruz do Sul e Região

 

 

O Dia 30 de Outubro é o Dia do Comerciário, uma data importante para lembrar das lutas desta categoria desde a década de 1930, até a regulamentação do horário do comércio. Assumimos Sindicato dos Empregados no Comércio de Santa Cruz do Sul e Região em meio a este momento fervoroso, em 1987, de votação dessa legislação. Mas, infelizmente, os políticos que deveriam regulamentar a lei, não o fazem e se omitem com relação a isto.

Em 1935, no Rio de Janeiro, houve uma greve geral dos comerciários, pela regulamentação da jornada de trabalho e pelo fim do trabalho aos domingos e feriados. Isso ocorreu em 30 de outubro, por isso hoje a data é celebrada. Para nós, neste momento, está colocada a mesma situação: ou lutamos, ou perdemos todo o nosso direito à dignidade, direito à família, ao lazer e ao convívio da sociedade, somos excluídos disso.

As mães então, que têm seus filhos nas creches, mas sem atendimento aos domingos, vivem um drama ainda pior. Não creio que seja necessária creche aos domingos, mas falta uma compreensão que a abertura de comércio aos domingos e feriados igualmente não tem necessidade. Falta sensibilidade dos políticos para a atenção a este tema. Por isso que precisamos sempre estar ativos nesta discussão. Gostaríamos que nesta data pudéssemos dar parabéns aos comerciários e comerciárias, mas hoje não é possível fazer isso, porque estaríamos nos enganando, pois não há o que comemorar.

Hoje o empresário tem tudo nas mãos e faz o que bem entende, não há lei. E quando ainda existe uma lei, levantam-se contra nós, os políticos, o Ministério Público, a Justiça do Trabalho, na tentativa de impedir a nossa luta, na qual existe previsão legal. Para que nós possamos fazer uma greve, por exemplo, muitas vezes esta greve é julgada ilegal, quando este direito é assegurado por lei. Por isso que precisamos lutar, sempre.

Queremos convocar você, comerciário: participe do nosso Sindicato: Em 1987 eu ingressamos no Sindicato por conta destas lutas. Naquele tempo houve uma grande greve na cidade, para que não se mantivesse o trabalho aos domingos.  No ano passado, quando houve aquela infeliz manifestação dos políticos que não conhecem a nossa realidade, seguida pelo Ministério Público, que também a conhece, houve um levante contra nós. Já tínhamos um acordo assinado, tudo regulamentando. Quando se chega nesta luta, com a compreensão dos empresários, aí outros setores interferem contra nós.

Meus queridos comerciários, companheiros e amigos de luta: nos submetemos à várias eleições, que vocês me reconduziram a este Sindicato. Não nos retiramos, pelo contrário, estamos somando a vocês, nesta luta, que só será vitoriosa se todos compreenderem que esta direção que está à frente do Sindicato está aqui para a defesa dos seus interesses e não ao interesse escuso. Nós queremos fazer com que os comerciários possam ser respeitos. Que a família dos comerciários possa estar no domingo com todos os seus membros. Não há necessidade de abertura de supermercado aos domingos, também. Existem geladeiras para armazenar alimentos, e o que não é essencial pode ser comprado em outros dias.

Atualmente, existe mais de 80 horas de funcionamento em supermercado, quando não haveria necessidade de cumprimento de todas elas. Se houvesse um interesse destes empresários, as promoções e ofertas seriam realizadas em dias de semana, e não aos finais de semana. A maioria destas horas não são pagas, porque o comerciário é a categoria profissional que mais faz horas, mas que historicamente a que menos recebe. Somos, inclusive, impedidos pela Justiça de investigar diretamente essa situação.

Todas estas dificuldades só podem ser superadas com a nossa união. Estamos muito felizes com a participação dos comerciários nas assembleias deste ano, onde houve posicionamento. Precisamos informar agora aqueles que não estavam sobre as decisões tomadas, porque o que foi decido em assembleia é lei. Que possamos utilizar o dia 30 como um momento de reflexão, para que nos sensibilizemos uns com os outros, dando as mãos e passando por cima daqueles que nos querem explorar. Um grande abraço às famílias dos comerciários, que entendem que nossa tarefa não é fácil, mas é possível por meio da união para conquista dos nossos direitos.

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