Sem salário digno, não há desenvolvimento

Afonso Schwengber

Tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Santa Cruz do Sul e Região

 

Enquanto trabalhadores batalham por dignidade, alguns representantes eleitos escolhem o silêncio conivente. Foi o que fez a deputada estadual Kelly Moraes, que já foi prefeita de Santa Cruz do Sul e agora, na Assembleia Legislativa, se absteve de votar o reajuste do piso regional do Rio Grande do Sul. Na prática, uma abstenção é como um voto contra. Fugir do posicionamento é negar amparo à base da pirâmide social: os trabalhadores que não têm sequer um sindicato para lhes defender.

O piso regional é uma ferramenta de valorização. Ele corrige uma injustiça histórica: milhares de gaúchos atuam sem convenção coletiva, ganhando o mínimo que o Estado permite pagar. O reajuste aprovado agora, que coloca o Rio Grande do Sul entre os estados com maior crescimento percentual do país, é uma vitória, ainda que parcial, de quem vive do próprio esforço. É um alento diante de um cenário marcado por desigualdade e retirada constante de direitos.

O capitalismo, como já denunciado inúmeras vezes, tem no acúmulo uma de suas maiores perversões. Concentrar riquezas nas mãos de poucos e retirar dinheiro de circulação penaliza toda a sociedade. O próprio DIEESE aponta que, para cumprir o que determina a Constituição Federal, na qual está previsto que moradia, saúde, educação e lazer deve ser contemplado pelo salário, o salário mínimo deveria ser de quase R$ 7 mil nos dias de hoje. Qualquer valor inferior a isso é uma violação do que está na lei. E não há desculpa: quem está no poder deveria fazer cumprir a Constituição, em vez de sabotá-la com omissões ou discursos neoliberais.

Se o Estado se cala, o povo deve gritar. Não existe ganho sem enfrentamento. A história dos trabalhadores é feita de mobilização, de luta nas ruas, de pressão social. Foi assim que conquistamos os direitos que hoje tentam nos tirar. E será assim que seguiremos resistindo. A valorização do trabalho precisa sair do discurso e entrar na prática, com salário digno, jornada humana e respeito à organização sindical.

Enquanto houver descaso, haverá denúncia. Enquanto houver exploração, haverá enfrentamento. O Sindicato dos Comerciários de Santa Cruz do Sul e Região não compactua com quem se omite diante do sofrimento do povo. O trabalhador merece mais; merece voz, vez e salário justo, e nós estaremos onde sempre estivemos: do lado de quem acorda cedo, pega ônibus cheio e carrega este país nas costas.